segunda-feira, abril 24, 2006

O teatro como fundação para o pensamento e concepção de linguagens de mediação - acção e significado (versão 1.0)

A procura de novas formas de expressão e de representação da realidade criou uma ruptura com a visão “tradicional” da arte, pautada por um carácter mais autónomo e mais distante do público. Nasceu, desta forma, uma vontade de transformar o público em algo mais do que um mero espectador que apenas “passa” pela obra sem deixar a sua “impressão”.
Assim, o público é, actualmente, o elemento fundamental em muitos trabalhos artísticos. Instações ou algumas peças de teatro podem constituir exemplos de obras onde o público é chamado a intervir e mesmo a ser mais do que a personagem principal. O público passa a ser também criador da obra, na medida em que esta se vai desenvolvendo e evoluindo a partir dos inputs do público.
O desenvolvimento dos meios tecnológicos e a cada vez maior versatilidade que estes proporcionam dão ainda mais destaque a esta tendência, uma vez que constituem os meios ideais para despoletar a participação do público. A Arte Digital, ou seja a arte assistida por computador, procura precisamente criar um ambiente onde o público possa interagir com múltiplas ideias e objectos.

Surge, então, a necessidade de criar novas formas de comunicação com o público para convidá-lo a participar na obra e também para que este possa perceber como interagir. Ou seja, é necessário desenvolver mecanismos e linguagens de mediação entre o público e a acção, para que se possa criar um ambiente imersivo que apele à participação do público.

Acção, Personagens, Pensamento, Linguagem, Padrão, Espectáculo são definidos por Aristóteles como elementos qualitativos do drama. Brenda Laurel parte desta sistematização para a adaptar ao meio computacional e criar meio de comparação entre o universo do teatro e o universo da interacção humano-computador.

Bruno Giesteira e João Mota, no estudo “Criatura Digital – Redimensão do Lugar Cénico” procuram precisamente analisar o desenvolvimento de linguagens de mediação para perceber como é que se pode estabelecer uma “relação mais íntima e emotiva entre o sujeito e o objecto de acção” durante a interacção do público no “meta-meio computacional, nomeadamente em obras de Arte Digital.
É sobre este estudo que irei falar no próximo post, procurando também perceber de que forma é que o teatro pode ajudar a pensar a interacção com o púbico.